Saturday, February 17, 2007

Sem "jeitinho"

Índios desnutridos no Mato Grosso do Sul aguardam a distribuição de cestas básicas pelo governo. Mãe perde filho de seis anos vitimado pela violência urbana. Homem esconde drogas com menor de nove anos, para livrar-se do flagrante. O povo brasileiro tem fome. Mas fome de que? De comida, de bebida, de igualdade de direitos, mas acima de tudo, tem fome de justiça.
Há algo de errado neste país, e é preciso consertar já.
As duas mil toneladas de alimentos estocados no galpão da CONAB, em Campo Grande, alimentariam as bocas de 5.500 famílias indígenas por um ano, não fosse a burocracia para distribuição, pois, segundo o coordenador da CONAB no estado, Sérgio Rios, faltou dinheiro para o frete, em virtude da demora na aprovação do Orçamento Geral da União. De fato, os alimentos não perecem e podem aguardar sua partilha por tempo prolongado, mas, e as vidas que anseiam por eles?
A distribuição de cestas básicas pode ser considerada uma medida paliativa e imediatista, mas há dois anos, quando 56 crianças indígenas morreram por desnutrição, a solução proposta pelo Governo Federal foi a contratação de mais médicos e o aumento na distribuição de comida. Em janeiro deste ano, um bebê de nove meses morreu com infecção generalizada; agravada pela desnutrição, segundo o atestado de óbito. Concluímos então, que a medida imediata desejada pelo povo, é preservação de vidas.
Dizem que ter quinze anos é estar na época dos sonhos, dos devaneios sobre o futuro, dos planos infindos, de ser adulto e criança ao mesmo tempo. O que então dizer sobre os de dezesseis, que estão prestes a serem considerados maiores, tamanho é o número de infrações e delitos que cometem?
A situação é tão delicada, que ainda restam dúvidas sobre os efeitos que a redução da maioridade penal traria. As dicotomias estão presentes, sobretudo, em quem possui o poder de decisão: o Senado. Para Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente da comissão de Constituição e Justiça, “Nós não podemos aceitar que os criminosos, sejam de 50, 60 ou de 16 anos, pululem neste país, criando situações como essa que acabamos de ver no Rio de Janeiro”.
Já o senador Aloízio Mercadante (PT-SP), que conseguiu adiar para o dia 28 de fevereiro a votação da proposta, defende outro pensamento: “Se nós estabelecermos o limite de 16 anos, as quadrilhas vão continuar aliciando quem tem 15, 14, 13. Portanto, não responde ao principal problema”.
Qual o principal, dentre tantos problemas que o Brasil enfrenta? Oportunismo? Má educação? Desemprego? Fome? Miséria? Corrupção? Violência? Medo? Problemas de dimensões continentais, tal qual a vastidão de nossas terras.
Pobres e ricos: vítimas e também autores de uma série de vícios comportamentais, que contribuem para o fiasco do social que se vive por aqui. Um grande exemplo é o ocorrido esta semana no Rio Grande do Sul: um homem de 46 anos (já com passagens pela polícia por furto e roubo), não hesita em esconder sob as cuecas de uma criança de nove anos, uma barra de 30 gramas de maconha, para fugir do flagrante.
Palavras do delegado de polícia Paulo Perez, que esteve à frente da operação: “Não só traficantes, todas as organizações criminosas, quadrilhas, cada vez mais estão utilizando adolescentes e não raramente crianças, exatamente porque há uma impunidade”.
Transferência de responsabilidade para conseguir impunidade. Aqui no país do “jeitinho”, a falta de caráter também é um problema crônico.
A realidade é dura, a população é grande e a justiça é lenta. A desigualdade gera revolta; a revolta, o crime; e o crime, nem sempre o castigo.
Há muita fome no país e a canção fala que comida é pasto. É preciso ter consciência que o homem também é animal, mas de outra espécie, daqueles que pensam. É preciso querer mais que pasto: dignidade, autonomia, respeito. É preciso pensar mais, saber mais e, enquanto houver pensamento, o apetite será crescente, voraz, insaciável. Sempre há de se querer algo a mais Sempre. Lutemos por isso!
Por Cristiane Oliveira